dijous, 7 d’abril del 2011

Mario Soares: Espanha e Portugal no contexto europeu

Portugal e Espanha, uma vez libertados das ditaduras às que durante décadas ambos países estiveram submetidos, assinaram no mesmo dia -o 12 de junho de 1985-, em Lisboa e Madrid respectivamente, sua adesão ao então telefonema CEE. Fizeram-no, depois de longas negociações, por razões de ordem político, em primeiro lugar, e de ordem económico ademais. Para consolidar suas jovens democracias e assegurar-se um mais rápido desenvolvimento económico e social.

Vinte e cinco anos após aquela data histórica, creio poder assegurar que uma esmagadora maioria da população de Espanha e de Portugal não está arrependida em absoluto. Todo o contrário. As transformações dos dois Estados ibérios e de suas sociedades civis têm sido altamente positivas, em todos os âmbitos. Têm desaparecido as fronteiras entre nossos dois países, as relações entre os dois Estados e governos têm estado marcadas por uma total confiança mútua e amizade, somámos-nos à moeda única -o euro-, participamos ambos na Comunidade Ibero-americana e temos mantido posições convergentes em assuntos europeus.

Com tudo, a União Européia tem mudado muito, como o resto do mundo. E, por desgraça, não sempre para melhor. O colapso do universo comunista levou à ampliação da União, para o este, e à unificação das duas Alemanhas. De 12 Estados membros -quando nos aderimos nós- temos passado a 27: 17 deles pertencem à zona euro e 10 não se somaram à moeda única, ainda que talvez tenha que dizer mais bem nove, dado que Polónia se acha em negociações -com significativos avanços, parece ser por agora- para se integrar também na zona euro.

A ampliação, politicamente importante e generosa, serviu também de justificativa para que a União, criada com o Tratado de Maastricht em 1992, paralisasse seu progresso institucional e subvertesse, paulatinamente, alguns princípios fundamentais do projecto dos chamados Países Fundadores. Por citar alguns exemplos: a igualdade e a solidariedade entre todos os Estados membros têm desaparecido; hoje estão todos mais ou menos dominados pela Alemanha do chanceler Merkel, que tem esquecido o que Alemanha deve à Comunidade Européia e se considera agora a dona da Europa, apoiada por seu útil aliado, o presidente Sarkozy; há uma predominância da economia -e das finanças, sobretudo- acima da política, ou em outras palavras, uma predominância do Banco Central Europeu e dos bancos alemães, ainda que não exclusivamente; produziu-se a paralisação de uma Europa cidadã e de uma Europa política, de tipo federal, etcétera.

Sucede ademais que a União Européia, somando suas 27 Estados membros, está governada nestes momentos por 24 partidos conservadores e ultra-conservadores e apenas por três partidos socialistas, na Grécia, Espanha e Portugal (este com um governo demissionário, à espera de eleições). Só três -dêmos-nos conta- e todos da chamada Europa do Sur. Cujo peso na Europa e no mundo -convenhamos- se baseia, mais que no dinheiro, na história e no que representam: Grécia, a quem devemos a democracia, a filosofia e a ciência; Espanha e Portugal que difundiram a civilização européia pelo largo mundo que descobriram, e que se trouxeram de regresso a Europa um melhor conhecimento do planeta. Não são coisas de pouca monta, mas, claro, os economistas, como só vêem o dinheiro, se esquecem do resto. E talvez por isso se enganem tão com freqüência... Os três Estados citados poderiam ter-se plantado ante as exigências de uma Alemanha que os lançava para uma recessão inaceitável. Mas não tiveram valor para o fazer.

A crise financeira e económica que hoje se abate sobre o mundo -e que está longe de ser superada- ainda não tem sido compreendida bem pelas instâncias que regem a União. Como costuma se dizer, "não há pior cego que o que não quer ver". Os líderes da União negam-se a aceitar que o neo-liberalismo, como ideologia, está esgotado, como faz 20 anos lhe ocorreu ao comunismo. Por isso, se negam a considerar o perigo da recessão, a se dar conta de que, além da redução do déficit, é necessário, da mesma forma, tentar reduzir o desemprego, as tremendas desigualdades sociais de nossas sociedades e procurar um novo paradigma de desenvolvimento.

Se não ocorre assim, a crise vai levar a rupturas que podem ser violentas e perigosas. Veja-se o exemplo da manifestação que faz dias teve lugar em Londres, que mobilizou a 500.000 manifestantes, alguns dos quais se mostraram muito agressivos. Como dantes tinha ocorrido na Grécia, Bélgica, França, Itália e em outros países. Se Europa não percebe o descontentamento que reina -por todas partes- contra os governos nacionais e as instituições européias e a distância que os separa de seus povos, é indubitável que nos encaminhamos para a decadência da União Européia, em um mundo em transformação, e para seu possível disgregação. Uma tragédia que corresponde aos cidadãos evitar. Porque nas democracias é mediante os votos como se escolhe aos governos. E se os governos são maus, em última análise, a responsabilidade é para os cidadãos, que podem os derrubar graças ao sufrágio popular.



(artigo publicado em El País)

Cap comentari:

Publica un comentari a l'entrada